sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Em uma aldeia Guarani


- Não é o Índio que está à margem da estrada. É a estrada que está à margem dos Índios ! - Disse com uma convicção ancestral. Ainda se preocupou em explicar que o termo “Índio” era equivocado, utilizado por Cabral quando julgou ter chegado na Índia, mas que acabava usando para facilitar a comunicação para se referir aos povos primitivos. O certo seria chamá-los pela etnia – Estávamos em meio a uma aldeia Guarani e era assim que gostariam de ser chamados. Chegamos no final da festa de aniversário de um Cacique, que nos recebeu e nos deu uma palestra, onde buscou esclarecer as perguntas feitas pelo grupo. Nos esclareceu que era uma festa normal, como qualquer outra e que o que tinha diferente é que todos eram Guaranis. Esclareceu que o povo tinha dois cotidianos, um voltado às tradições e rituais, dos quais o homem branco não participava e outro semelhante ao nosso. Foi aberto para todos perguntarem algo. A Isa - uma das integrantes do nosso grupo de excursão – logo questionou do Cocar e das pinturas – O Cacique – que se Chamava Verapoti (não sei se é assim que se escreve) logo esclareceu que aquilo era um esteriótipo que não fazia parte dos costumes daquela tribo. Somente pintavam as articulações as meninas na primeira menstruação e os meninos quando trocavam de voz. O Jovem, que completava 27 anos, tinha sabedoria e serenidade em suas palavras, não compatíveis com a sua pouca idade. Se seguiram várias perguntas. Quando chegou na minha vez de perguntar questionei acerca do principal ritual e ele esclareceu que era a da primeira plantação que eram quando eles “abençoavam” as sementes para plantio e em seguida eram revelados os nomes dos pequeninos. Pequenos é como eles chamam os seres de pouca idade, pois consideram criança quem não tem nenhum conhecimento. Disse que a pessoa tem o nome muito antes do nascimento e, nesse ritual é revelado o nome. Questionado se nós poderíamos participar de uma festa típica, ele disse que era complicado, não bastava querer, tinha que ser avaliado qual o interesse de cada um em conhecer a comunidade, que também dependia da aprovação da comunidade, enfim, de uma série de fatores. A palestra foi improvisada na nossa Van e o tempo era reduzido, tendo em vista que ainda tínhamos que voltar para Porto Alegre. Era por volta das 23h de domingo e o Cacique já estava cansado, pois a festa começara na sexta. Ele era de outra aldeia, resolveu comemorar seu aniversário nas Missões, foi um encontro nacional, com participações de aldeias de São Paulo, Rio de Janeiro e até da Argentina. Suas roupas eram de pessoa normal, condizentes com a sua idade. Tinha os cabelos compridos e um colar discreto. O Nosso Guia – o Ivan, perguntou se ele podia ver quem de nós poderia visitar a aldeia em outra oportunidade. Disse que havia participado da festa, brincando que a única coisa que ele enxergava era a entidade da Cerveja. Também esclareceu que estávamos em uma Van, um local de passagem, portanto inapropriado para realização de qualquer ritual. Mas depois de um certo tempo, admitiu que poderia realizar um novo encontro, primeiro fora da aldeia, para esclarecer mais sobre a sua cultura. Nos despedimos e seguimos viagem. Esse foi o meu primeiro contato com a cultura deles, fora os artesanatos adquiridos no centro de Torres.

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