terça-feira, 7 de abril de 2015

Um dia me disseram

Um dia me disseram: és poeta...
Mas não me prepararam para os tempos de vazio, as noites de insônia e as crises existenciais...
Um dia me disseram: és poeta...
Mas não calaram a voz que grita aqui dentro e o silêncio inquietante que às vezes me atormenta...
Um dia me disseram e eu nem quis ouvir o que, talvez porque duvidasse, talvez porque não fizesse diferença o que os rótulos estavam a me enquadrar...
O silêncio se fez distante, a voz pensante e o caminhar teve rumo...
Olhando para trás, talvez não importe o que eu sou, talvez seja algo que eu esqueci e sonhei um dia...
Um dia me disseram: és poeta...
E aquilo, de fato, alguma coisa significou, mas hoje não mais faz sentido...
Porque parece algo esquecido nas sombras dos meus pensamentos.
Algo distante e que eu estranho.
Um dia rimas e palavras faziam todo o sentido.
Hoje, não passam de rabiscos as poucas linhas que escrevo.
Escrevo e apago, como se nunca existissem, como se fizessem parte de um segredo que não quero dividir.
Um dia me disseram: és poeta...
e eu nada disse, como que quase consentisse.
Como se fossem atingíveis, como se fossem compreensíveis os textos que escrevia.
Um dia me disseram:  és poeta...
E Eu neguei, neguei até tal ponto que duvidei e, da dúvida, até aceitei.
Um dia me disseram: és poeta...
Mas esse tempo ficou pra trás, esquecido como uma porção de outros sonhos mais.
Foi-se o tempo que andava na corda bamba.
Foi-se o tempo da bohemia.
Mas não foi-se o tempo em que vivia.
Um dia me disseram: és poeta...
Então fiz análise, até que eu mesma me dei a cura.
E de tanto me dizerem, dei-me por convencida de que todos estavam errados e de que os loucos não precisam ser curados.